Faz mais de 12 anos que trabalho com pesquisas eleitorais, mas meu foco
sempre foi mais em produzir pesquisas do que em consumi-las. Por causa do PollingData (www.pollingdata.com.br) isso mudou.
Até o momento, procurei discutir mais a questão metodológica das pesquisas de
opinião e dos institutos de pesquisa. Porém existem muitos fatores
“não-metodológicos” que podem influenciar bastante os resultados das pesquisas.
Nesse momento, o PollingData está acompanhando 14 eleições estaduais além da eleição
presidencial, num total de 186 pesquisas de 29 institutos de pesquisas.
Como esse é o primeiro ano do site, ainda não temos um histórico muito grande,
e a maioria dos institutos têm poucas pesquisas divulgadas. Ou seja, é dificil
avaliar a metodologia de cada pesquisa para cada uma desses institutos.
Realmente difícil.
Além da questão metodológica, existe a possibilidade de fraude também.
Abaixo inclui alguns links com exemplos desse tipo de problema. Claro que as
fontes também são questionáveis, pois aqui no Brasil muitas vezes se discute
política como se fosse um jogo de futebol, muita emoção e pouca razão. Como se
existisse um lado certo e um lado errado. Independente disso, a possibilidade
de fraude sempre existe.
http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2014/10/08/epoca-divulga-pesquisa-fajuta-para-beneficiar-aecio/
http://www.gazetadopovo.com.br/m/conteudo.phtml?id=1413279
http://www.gazetadopovo.com.br/m/conteudo.phtml?id=1413279
Já trabalhei com pesquisas para consumo interno de políticos em
campanha. Há muita pressão externa. E a pressão é ENORME! Consigo apenas
imaginar como deve ser no caso de pesquisas que serão publicadas. E existem
muitas formas diferentes dessa “pressão” alterar os resultados das pesquisas.
Algumas mais diretas, outras indiretas. Algumas mais intencionais, outras nem
tanto. Alterar ordem das perguntas do questionário, alterar o texto das
perguntas, não rodiziar nomes de candidatos, incluir o partido junto com o nome
do candidato ou não, escolher regiões/cidades/bairros sabidamente favoráveis a
um partido, testar diversas ponderações e escolher a que faz mais sentido – ou
que tenha o melhor resultado segundo algum critério. Existem muitas outras
formas que nem estou mencionando aqui. Abaixo, segue mais um link com um
exemplo.
http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,metodologia-de-pesquisa-beneficia-pre-candidato-tucano-imp-,1161716
http://www.revoltabrasil.com.br/politica/4931-senador-denuncia-que-ibope-pediu-r-1-milhao-para-fraudar-pesquisa-eleitoral.html
http://www.revoltabrasil.com.br/politica/4931-senador-denuncia-que-ibope-pediu-r-1-milhao-para-fraudar-pesquisa-eleitoral.html
Pela lei, para publicar uma pesquisa, o instituto é obrigado a divulgar
quem é o contratante. Essa informação seria bastante relevante pra tentar
avaliar se há algum conflito de interesses entre o resultado da pesquisa e quem
encomendou a pesquisa. Porém virou prática comum o instituto dizer que foi ele
mesmo que financiou a pesquisa. Em alguns casos é verdade. Em outros, o
objetivo é esconder a fonte dos recursos.
Outra forma, talvez mais sútil de publicar resultados favoráveis, é
fazendo um tracking (diário ou em períodos com menor frequência). Registra-se
então pesquisas no TSE em vários dias diferentes, porém a pesquisa somente é
publicada nos dias que apresentam uma variação amostral na direção conveniente
ao contratante. Note que nesse caso, a metodologia pode ser
“perfeita”, porém o que está sendo publicando tem um viés. Isso explicaria, por
exemplo, o número muito maior de pesquisas registradas do que publicadas.
Estou discutindo esses pontos aqui pra mostrar como a lei, do jeito que
está, tem muitas falhas. Ter algum tipo de fiscalização já faria alguma
diferença. Eu trabalho com pesquisas, tenho enorme prazer em
trabalhar com elas, sei que podem ser bem-feitas e acredito que são muito
importantes para a democracia. Mas é necessário acabar com a
corrupção e a manipulação de resultados. E por favor, não usem esse
texto pra argumentar pelo fim das pesquisas, pois como todos sabem, a corrupção
está presente em todo Brasil, principalmente em tudo que envolve a esfera
política. A idéia não é proibir, mas sim melhorar! Também acredito que
conforme o mercado das pesquisas eleitorais no Brasil amadurece, ele também
será capaz de se auto-regular. Um dos nossos objetivos é que o PollingData faça
parte desse movimento.
Eu sei que os parágrafos anteriores estão um
pouco exagerados pro contexto que estou discutindo aqui, mas meu ponto é: será
que no modelo do PollingData, pesquisas de todos os institutos devem ter um peso igual, ou seja, que
depende somente do tamanho da amostra? Tenho certeza que o modelo será
otimizado (em algum sentido) se pesquisas com metodologias mais questionáveis,
ou institutos sem histórico, ou ainda institutos com a credibilidade questionável
tiverem um peso diferenciado, reduzindo assim sua influência nas estimativas do
modelo. Por enquanto, não vou retirar nenhuma pesquisa de nenhum instituto do
modelo. Mas pretendo rever essa política caso haja fortes evidências de fraude.
Não tenham dúvidas que o critério para atribuir pesos aos institutos
será bastante subjetivo, principalmente nesse primeiro ano onde não temos um
histórico grande de pesquisas. Isso também evoluirá com o tempo, esse é apenas
o primeiro passo. Acredito que num futuro próximo será possível definir um
ranking de qualidade dos institutos de pesquisa. Por enquanto, nosso critério
distinguirá apenas três grupos: 1) Institutos que têm um histórico conhecido e
confiável, 2) Institutos que estão trabalhando para partidos politicos nesse
ciclo eleitoral, e 3) Institutos pequenos ou com pouco histórico.
Os pesos serão simplesmente aplicados diretamente no tamanho da amostra
de cada instituto. Institutos do grupo ‘2’ terão uma precisão máxima de
+/- 4% e do grupo ‘3’ serão limitados por +/- 5%. Segue abaixo a relação
dos institutos em cada grupo. Nas próximas horas o PollingData estará atualizado utilizando esses pesos. Acessem o site pra ver
os novos resutados….
Críticas e sugestões são muito bem vindas!
Grupo
|
Instituto
|
Pesquisas no PollingData
|
1
|
Ibope
|
66
|
Datafolha
|
37
|
|
MDA
|
13
|
|
2
|
Sensus (PSDB)
|
10
|
Vox Populi (PT)
|
9
|
|
3
|
Fortiori
|
6
|
Serpes
|
5
|
|
Grupom
|
4
|
|
Veritá
|
4
|
|
Delta
|
3
|
|
Iveiga
|
3
|
|
Seta
|
3
|
|
Gerp
|
2
|
|
IDP
|
2
|
|
O&P Brasil
|
2
|
|
Souza Lopes
|
2
|
|
Verus
|
2
|
|
Instituto Verita
|
2
|
|
Action
|
1
|
|
Datamax
|
1
|
|
DMP
|
1
|
|
EPP
|
1
|
|
FSB
|
1
|
|
GPP
|
1
|
|
Ibrape
|
1
|
|
Ipespe
|
1
|
|
Methodus
|
1
|
|
Vale
|
1
|
|
Parana Pesquisas
|
1
|
Neale, acho que poderia considerar o histórico de acerto de cada instituto na ponderação. Embora o histórico seja pequeno (apenas o primeiro turno) pode-se ampliar com busca de dados de pesquisas de eleições anteriores. uma diferença que pode surgir é um instituto pode ser bom em pesquisas em uma região (ou um tipo de pesquisa, i.e., presidente, governador ou prefeito) e não ter um histórico abonador em outra (ou outro tipo de eleição). Isso também poderia ser levado em consideração.
ReplyDeleteOi Neale, otimo site! Vc pretende atualizar os dados com as 3 pesquisa q sairam hoje (IBOPE, Datafolha e MDA?) Com certeza apertou mais. Vc chegou a analisar o erro dos institutos no 1 turno para cada candidato? Este artigo do Washington Post me pareceu bem interessante: http://www.washingtonpost.com/blogs/monkey-cage/wp/2014/10/24/forecasting-the-brazilian-election/
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