Com todas as notícias relacionadas ao
Impeachment, a crise e a corrupção no
Brasil sendo divulgadas constantemente na mídia, sobra pouco espaço para dar o
devido destaque ao referendo popular que será votado amanhã no Reino Unido (RU).
Para quem não sabe, nesse referendo os britânicos irão decidir se o RU
permanece na União Européia (UE) ou não. O impacto de uma decisão de deixar a UE
pode ser enorme, desde colocar em xeque a existência da UE à causar a saída da
Escócia do RU.
Muitas pesquisas têm sido feitas para prever
qual será o resultado da votação (link),
porém por causa dos erros cometidos pelos institutos de pesquisa ao prever os
resultados das eleições gerais no RU em 2015 (veja aqui),
existe muita desconfiança sobre a confiabilidade das pesquisas. A maioria das
pesquisas publicadas recentemente indica um empate técnico entre “Permanecer” e
“Sair” da UE, com um percentual médio de 10% de indecisos. Ou seja, os
indecisos podem facilmente decidir o referendo.
Uma outra incógnita muito importante é saber
quem irá votar no referendo. Como não é uma eleição tradicional, é muito
difícil avaliar quantas pessoas de fato comparecerão as urnas para votar. A
chance de comparecer as urnas pode estar relacionada a permanência ou saída da
UE, tornando a dificuldade de prever o resultado ainda maior.
Mesmo confiando no resultado das pesquisas,
existe uma outra complicação importante. No RU têm sido utilizadas duas metodologias
principais para se fazer as pesquisas sobre o referendo: online e telefônica. E
os resultados das duas metodologias têm sido consistentemente diferentes, sendo
as pesquisas online mais favoráveis a saída da UE e as telefônicas mais
favoráveis a permanência na UE.
De acordo com esse site,
a diferença entre as metodologias ocorre porque na pesquisa telefônica, o
entrevistador não dá a opção ao respondente de escolher “Não Sabe” ou “Não têm
opinião”, forçando o mesmo a escolher um dos lados. Já nas pesquisas online,
que são auto-preenchidas, o respondente pode escolher essas opções neutras, sem
se posicionar a favor ou contra. O consenso têm sido de que ao forçar o respondente
a escolher um dos lados, existe uma tendência maior dele escolher a opção mais familiar,
ou o status quo, nesse caso de permanência na UE.
O site PollingData
têm acompanhado as pesquisas do referendo do RU, porém não de forma pública.
Nesse post vamos mostrar as previsões atualizadas do site utilizando dois
modelos diferentes, descritos abaixo:
1-
Tradicional (sem memória) - Esse é o modelo que o site já vem
utilizando á alguns anos. O principal problema com esse modelo têm side que ele
supõem que a intenção de voto se manterá constante após a última pesquisa. Ou
seja, assume que o cenário eleitoral se manterá constante. Denominamos esse
modelo de sem memória porque não importa se um candidato estava na ascendente/descendente,
a previsão do modelo irá ignorar essas tendências e supor que o cenário de hoje
se repetirá amanha.
2-
Novo (com memória) – Esse é um novo modelo em ainda em desenvolvimento,
e essa será a primeira vez que iremos utilizá-lo em uma situação real. Esse
modelo assume que as tendências de subida/queda dos candidatos se manterão após
a última pesquisa divulgada. A motivação para desenvolver esse modelo ocorreu
em 2014, quando em muitas eleições ficou evidente que as estimativas seriam
mais precisas se as tendências de cescimento/queda que ocorreram as vésperas das eleições fossem
levadas em conta na hora de fazer as previsões. Por isso esse modelo foi
denominado de com memória.
No Brasil usualmente não existem informações
claras sobre as metodologias de pesquisa utilizadas, assim o tipo de
metodologia não têm sido utilizada nos modelos descritos acima. No caso das
pesquisas sobre o referendo popular, a informação sobre a metodologia utilizada
existe, assim adaptamos os modelos do PollingData para levarem em conta essa
informação que claramente é bastante informativa.
Ao acrescentar essa informação, os modelos
estimam o viés causado por cada tipo de metodologia, e implicitamente assumem que
a intenção de voto está na realidade entre as estimativas obtidas pelas
diferentes metodologias (ou seja, supomos que em média o viés é zero, caso
contrário o modelo não é identificável). Se futuramente ficar comprovado que as
pesquisas online tinham um viés e as telefônicas não eram enviesadas, por
exemplo, o modelo fatalmente errará a previsão, pois ele considera que as duas
metodologias trazem informações importantes sobre o cenário eleitoral.
Abaixo apresentamos um gráfico para cada
modelo. Como a diferença entre os dois modelos é sutil, porém bastante
importante, destacamos em preto a diferença nas previsões do resultado das
eleições.
Utilizando o modelo tradicional as estimativas
para o dia da eleição estão empatadas em 46%, com probabilidade de vitória de
50% para cada. Porém utilizando o modelo novo, com memória, ele capta o aumento
recente da opção por “Continuar” onde as estimativas são de 49% de “Continuar”
e 45% de “Sair”, com probabilidade de vitória de 73% para “Continuar”. A
diferença entre os dois modelos é bem grande. O mercado de pesquisas está
obtendo estimativas mais parecidas com o modelo sem memória, porém eu acho que
o modelo com memória está captando a mudança da intenção de voto que está
ocorrendo de última hora. Baseado nas estimativas dos modelos, minha previsão é
de que o resultado do referendo será de continuar na UE, mas de fato esse e´ um
teste bastante duro para o novo modelo....
Como curiosidade, segue abaixo a tabela com o
viés estimado por tipo de metodologia.
Update 23/6/2016 9am:
Hoje foram divulgadas 4 novas pesquisas que foram encerradas ontem. Re-estimando os modelos incluindo essas pesquisas, obtemos os seguintes resultados. Pelo "modelo SEM memória", percentual de votos previsto é de 46% para continuar e 45% para sair, com probabilidade de vitória de 57% para continuar. Já para o "modelo COM memória", percentual de votos previstos é de 47% para continuar e 45% para sair, com probabilidade de vitória de 66% para continuar.
O motivo pelo qual os resultados dos modelos estão mais similares após essa atualização é porque existe apenas um dia entre a última pesquisa divulgada e o dia da eleição, e pelas suposições do modelo a opinião pública não pode se alterar tanto em apenas um dia. Além disso, a precisão da estimativa do dia 22 (ontem) é bem alta, porque foram observadas quatro pesquisas.
Update 23/6/2016 11am:
Por enquanto foram divulgadas 7 novas pesquisas que foram encerradas ontem. Re-estimando os modelos incluindo essas pesquisas, obtemos os seguintes resultados. Pelo "modelo SEM memória", percentual de votos previsto é de 46% para continuar e 46% para sair, com probabilidade de vitória de 51% para continuar. Já para o "modelo COM memória", percentual de votos previstos é de 46% para continuar e 45% para sair, com probabilidade de vitória de 56% para continuar.
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