Na lista da ABE circulou alguns
emails discutindo a possibilidade de fraudar as eleições com o uso das urnas
eletrônicas, e também alguns emails discutindo se seria possível detectar essa fraude usando as pesquisas eleitorais como referência. O artigo citado
inicialmente como referência sobre as fraudes foi esse.
Segue abaixo minha contribuição para a discussão.
Acho que avaliar a existência de
fraude nos resultados das eleições presidenciais apenas com dados secundários é
bastante difícil. Teríamos que fazer diversas suposições, essencialmente
inferindo que diferenças observadas maiores do que as diferenças esperadas são
por causa de fraude – e esse é um terreno bem perigoso!
Mas se, apesar dessa ressalva, o meu
objetivo fosse avaliar a existência ou não de fraude, eu usaria algum modelo
baseado nas pesquisas eleitorais, como o do PollingData,
porém também utilizaria outras fontes de informação existentes, como:
1- Votações históricas no nível da
zona/seção eleitoral. Essas informações podem ser usadas tanto pra
modelar/prever o resultado da eleição em cada unidade geográfica, permitindo
avaliar se a votação observada em cada seção está coerente com o esperado.
Combinando essas informações com os dados da malha de setores censitários, por
exemplo, podemos ter uma modelo bastante interessante para prever o voto que
leva em consideração também a renda dos eleitores.
2- Algum model estrutural, como o
modelo de aprovação do PollingData. Com esse modelo (que foi estimado
utilizando mais de 150 eleições de mais de 20 países), é possível estimar a
probabilidade de vitória de um candidato dado a aprovação do atual governante e
o tipo do candidato do governo para a próxima eleição (re-eleição ou
sucessão).
3- Também podemos usar a informação
de votação em outros cargos políticos por zona/seção eleitoral.
Nesse nível geográfico, deve haver uma correlação alta entre
votos pra presidente e outros cargos, que também pode ser bastante
informativa para avaliar a existência de fraude na eleição
presidencial. Talvez essa seja a informação mais importante se a fraude
ocorrer apenas para o cargo para presidente, que parece ser o cenário mais
plausível.
4- Além dos modelos espaço e/ou
temporais mencionados acima, podemos usar algum modelo do tipo usado pelo
Mignon em nesse artigo. As suposições são mais fortes, mas pode ser útil. Talvez esse modelo possa ser
generalizado, escolhendo mais de uma zona eleitoral, de forma a
representar todos os estados e/ou municípios.
Se todas essas fontes de informação
apontarem na mesma direção, seria um forte indício de algo fraudulento. Porém
se apenas algumas delas acusarem algo errado, seria difícil fazer um
caso a favor de fraude, mesmo que ela existisse.
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